segunda-feira, 14 de março de 2011

geração enrascada

eu nao fui à manif.
mas estive solidária com os manifestantes e os motivos que (n)os movem.
em vez de ir à manif, fiquei a trabalhar.
eu não me considero "à rasca", mas trabalho muito mais do que as horas mensais que me são pagas e muito mais do que o meu cérebro pode aturar. mas trabalho. se acho que podia ter melhores condições? Podia, mas o mundo também podia ser mais verde e não é.
alguns consideram-me privilegiada e sortuda, porque tenho e sempre tive bons empregos e bons ordenados. é verdade. mas não serei, também eu, precária?

SORTE. nao foi sorte.

foi muito trabalho desde muito cedo e tomada de decisões difíceis e pelos caminhos mais tortuosos para construir o meu futuro, que nem de perto nem de longe está alcançado.
no secundário estudei que nem louca para conseguir entrar na melhor faculdade do país para tirar o curso com maior amplitude de saídas profissionais e maior garantia de bons empregos. na 1ª tentativa não consegui e daí a desistir estava um passinho de pardal. Era tão mais fácil formar-me em assistência social, teatro ou danças orientais. mas que empregos esperariam por mim? que futuro? e eu nao ia poder fazer isso nas horas vagas? seria preciso ser Dra-especializada-d0-que-mais-gosto-de-fazer-na-vida? nao. seria perfeito conseguir conjugar as duas coisas, mas há que ser realista, mesmo que so se tenha 17 anos e muita imaturidade.
estudei um verao inteiro, fui a 2ª epoca, esforcei-me por me integrar numa faculdade que me acolheu por 15 dias e mudei-me para a outra (a tal melhor do país) que me recebeu a meio do 1º semestre com muita arrogância durante 4 duros anos em que nunca me senti pertencer a lado nenhum. nao foram os melhores anos da minha vida, uma luta entre o complicadissimo, a arrogancia da maior parte das pessoas e a dificuldade de integração num meio muito fechado sobre si, mas sobrevivi. nao tive direito a bolsa de estudo e tive que ser rápida a fazer o curso para não gastar muito mais dinheiro aos meus pais. saí de casa da minha mae com 18 anos para viver sozinha ou partilhar casa com 6 meninas que conheci no momento em que entrei naquele apartamento. o Estado nem nessa altura me ajudou num tostao. Fui para erasmus, com o olho no futuro e nas portas que se abririam quando regressasse.

faço parte da geração "mil euros" mas foi com esse mil euros que há 7 anos comprei em 2ª mão o meu carro que ainda hoje dura, o meu super punto! tirei a carta aos 18 anos, sim, mas só tive carro quando eu própria o pude comprar com o meu dinheiro, depois de formada e com emprego garantido.

o 1º ano de trabalho foi duro, mas sempre tive a consciência de que estava numa escola para a vida e que aquele ano duro iria ter repercussões em todas as minhas escolhas futuras. Assim tem sido.

sou uma sortuda, dizem! tudo me corre bem na vida e é muito verdade!
nao espero absolutamnete nada do Estado a nao ser que redistribua da melhor maneira a minha contribuição de todos os meses. tenho seguro de saude que me permite ficar doente, um fundo de pensões e poupança reforma para quando for velhinha. nao vale a pena estar à espera do Estado, meus amigos, capacitem-se disso! Para sobreviver há que ser DESENRASCADO!

se esta é a situação perfeita? pois 'ta claro que nao é. mas perante estes factos ha que ser arriscado, desenrascado, ambicioso e confiante. em nós próprios e nos que nos rodeiam. não no Estado.

aos 26 anos fui ao banco, sozinha, pedir um empréstimo, sozinha, que me chega a consumir mais de metade do meu ordenado.
tenho casa própria, é um facto, mas nao é um luxo, é uma necessidade. também nao é sorte... é esforço.

revejo-me em muitos dos motivos que levaram a esta manifestação de 12 de Março, fico feliz por ver a adesão que teve e espero que se tenha feito democracia. apoio cada um dos manifestantes. recuso o actual estado das coisas e o actual (des)Governo que temos. mas nem esse nos caiu em sorte.. foi eleito e reeleito por nós.
a vida é feita de escolhas, nós temos feito as nossas.
agora é preciso muita coragem, audácia e confiança para sairmos neste buraco em que estamos.
eu ja estou de mangas arregaçadas, pronta a trabalhar.
*

3 comentários:

Luis Pedro disse...

Sim senhora, ai está uma prova viva de que a vida não é fácil, nem foi fácil para ti. Tu tiveste bons empregos porque te empenhas-te! Porque te esforças-te! Por sorte, se calhar 5 %, hora certa sitio certo, mas se tu estas onde estás é por mérito próprio e por lutares pelo que queres, e por lutares mais que os outro.

Parabéns, grande POST Filipa,

Beijinhos Luis Pedro

nat disse...

Adorei este texto!

Soph disse...

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