domingo, 17 de agosto de 2008

ainda se morre de amores

faz agora 2 anos.
o meu mundo tinha desabado há uns dias mas nesse fim de tarde tinhamos tido a derradeira conversa que ditava que o conto de fadas tinha chegado ao fim. nao havia mais pózinhos de perlimpimpim para lançar.
nessa noite, depois de um jantar de amigas, a angustia, as recordações, as incertezas, o «nunca mais« e os planos para uma vida de principes eram demais para me deixar dormir um só minuto.
o que é que eu fazia aos meus sonhos? onde é que eu guardava 3 anos de magia? o que fazia a tudo o que tinhamos planeado para nós? á minha volta, existia só um buraco escuro e nao me via a ultrapasá-lo... sozinha. uma noite inteira. um coração em pedacinhos. um turbilhão de pensamentos. uma cabeça pesada de mais para dormir um minuto que fosse.

quando o sol nasceu, com os olhos inchados e cabeça cheia, respirei fundo e qual pessoa crescida fui para o meu mundo cor de laranja.

ao fim do dia, enquanto conduzia para um fim-de-semana-no-algarve-onde-a-galhofada-do-costume-nos-esperava, chorava com a minha mana maior que compreendia o tamanho pequenino do meu coração e me deixava deitar a angustia toda cá para fora. pedi-lhe que então atendesse o telefone que nesse dia nao parava de tocar das mais variadas pessoas, e eu nao tinha tido a força de atender.

o silencio e a cara de panico da minha irma fizeram-me voltar á realidade.

o meu amigo André V., motivado por uma dor semelhante á minha, tinha decidido dar o salto para um mundo em que nao existem desgostos de amor.
na noite em que eu não dormia e chorava sozinha em casa o desabar do meu mundo, o meu amigo André também nao dormiu, saiu de ao pé dos amigos e da namorada, foi á ponte e voou para um tejo que lhe pareceu a melhor solução para um sonho desfeito.

o André não aguentou a dor do coração. não se lembrou que a solução dele deixou o coração dos pais destroçado. não se lembrou da mágoa da culpa vincada para sempre da namorada. não se lembrou que tinha um mundo de amigos que naquela noite viveu a angustia de não saber dele e viverá para sempre a dor de o ter perdido antes de o agarrar naquela ponte. não se lembrou que tudo se cura, e que o abismo daquela noite um dia se transformaria num caminho tranquilo com um lago ao fundo.

ainda hoje, é impossivel passar sobre o tejo e não me lembrar do André. da imagem defastada dos pais. da fraqueza da namorada. dos olhos vermelhos de dor e de raiva de todos nós, amigos que naquela noite não conseguimos adivinhar o André.

e ainda hoje me culpo, porque se naquela noite em que não dormi, tivesse pegado no telefone a pedir o abraço do André, talvez tivémos limpo as lágrimas um do outro, e hoje estivéssemos a rir dos fartotes desse verão!

talvez.

a verdade é que o André sentiu que a dor do amor era gigantesca perante as suas forças.
a verdade é que o André não concebeu a ideia de seguir em frente sem o [entao]amor da sua vida.
a verdade é que o André não teve força para reerguer o seu mundo.
a verdade é que o André morreu por amor, na noite em que o meu conto de fadas morreu.

2 comentários:

Soph disse...

Histórias de Amor...
... a do André e a tua.

Sem Palavras... mas com muitos sentimentos.

Semelhantes aos teus.

Anónimo disse...

Ao ler o teu comentario, senti um arrepio de ver em como algumas historias se identificam. Essencialmente na parte em que o conto de fadas acaba, passei por isso, passo..

Mas como uma grande amiga me disse é um dia de cada vez, e o acordar e simplesmente forçar o sorriso e pensar isto vai passar.. porque passa..

Não queria dizer lamexices, mas so desejar força e sorte, apenas isso..